Cientistas acabam de fazer uma nova demonstração de como o DNA pode ser usado para arquivar informações digitais.
A equipe britânica codificou e inseriu um texto
científico, uma foto, sonetos de Shakespeare e um trecho do famoso
discurso "I Have a Dream" (Eu tenho um sonho), do líder negro
norte-americano Martin Luther King, em filamentos de uma molécula de DNA
produzidos artificialmente. Depois, a informação foi decodificada e "lida" com 100% de precisão. É possível guardar imensas quantidades de
informações em DNA por milhares de anos, dizem os pesquisadores em
artigo publicado na revista científica Nature.
Eles reconhecem que os custos envolvidos na
síntese artificial de moléculas em laboratório tornam essa forma de
armazenar informação incrivelmente cara no momento, mas argumentam que
tecnologias novas e mais rápidas logo baratearão o processo,
especialmente para arquivamento a longo prazo.
"Uma das grandes propriedades do DNA é que você
não precisa de eletricidade para armazená-lo", explicou um integrante da
equipe, Ewan Birney, do European Bioinformatics Institute (EBI), em
Hinxton, perto de Cambridge, na Inglaterra.
"Se você o mantém frio, seco e no escuro, o DNA
dura um longo tempo. Sabemos disso porque sequenciamos, rotineiramente,
DNA de mamutes que ficou guardado por acaso em condições como essas".
Restos mortais de mamutes, animais pré-históricos, datam de milhares de
anos atrás.
O grupo cita registros históricos e do governo
como exemplos de informações que poderiam se beneficiar do armazenamento
molecular.
Muitas dessas informações não são utilizadas
todos os dias mas, ainda assim, precisam ser arquivadas. Uma vez
codificadas na forma de DNA, elas poderiam ser guardadas em segurança em
um cofre até quando fossem requisitadas.
E, diferentemente do que acontece com outros
meios de armazenagem em uso hoje, como discos rígidos e fitas
magnéticas, a "biblioteca" de DNA não exigiria manutenção constate.
Além disso, a natureza universal do DNA diminui a
probabilidade de que haja problemas de compatibilidade, quando a
tecnologia de um dado período for incapaz de ler arquivos valiosos de
informações.
"Achamos que, enquanto houver vida baseada em
DNA na Terra, sempre haverá tecnologias para ler DNA - pressupondo-se, é
claro, que (essas formas de vida) sejam sofisticadas tecnologicamente",
disse Birney à BBC News.
Esta não é a primeira vez que DNA é usado para armazenar informações que guardamos rotineiramente em nossos computadores.
No ano passado, por exemplo, uma equipe americana publicou na revista científica Science os resultados de um experimento parecido. Os especialistas, da cidade de Boston, arquivaram um livro inteiro em DNA.
Fisicamente, o DNA armazenando todo esse volume de informações não é maior do que uma partícula de poeira.
Nick Goldman, outro integrante da equipe
britânica, disse que a molécula é um meio de armazenagem incrivelmente
denso. Um grama de DNA deve ser capaz de "guardar" dois petabytes de
informações - ou cerca de três milhões de CDs -, ele explicou.
E respondendo a questões levantadas por pessoas
que temem que o DNA artificial se alastre pela natureza e contamine o
genoma de organismos vivos, Goldman disse:
"O DNA que criamos não pode ser incorporado
acidentalmente a um genoma, ele usa um código completamente diferente
daquele usado em células de organismos vivos".
"E se esse DNA fosse parar dentro de você, seria degradado e eliminado."
Fonte: Jonathan Amos
BBC News
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